Baixa demanda, alto custo operacional, passagens caras. Aviação recua

Depois de uma década de forte expansão, a demanda por viagens de avião no mercado doméstico deve encolher neste ano ou, nas previsões mais otimistas, ter um crescimento perto de zero.


De janeiro a maio, o mercado encolheu 0,43%, refletindo o baixo crescimento da economia e o enxugamento da oferta de assentos por parte das líderes TAM e Gol.

A valorização do dólar -que subiu 9% desde o início do ano- será uma outra barreira para a recuperação, com impacto tanto na demanda por viagens internacionais como no desempenho do mercado doméstico.


O câmbio tem impacto brutal na estrutura de custos das companhias, que compram aviões, peças e outros serviços em moeda estrangeira", diz o consultor Lucas Arruda, da Lunica consultoria. "Não tem como não repassar o aumento para as tarifas."

O setor é altamente sensível a preço e qualquer aumento afeta a demanda. E, como a demanda já está fraca, é cada vez mais difícil para as empresas repassar os custos para a passagem.

"Em condições normais, o setor poderia registrar crescimento de 4%, 5%, dado que a economia pode crescer 2% neste ano. Mas, com a redução da oferta de assentos e diante da necessidade de repassar o dólar para a tarifa, o mercado ficará estável ou poderá cair 1%, 2%", afirma o consultor André Castellini, sócio da Bain&Co.


De janeiro a maio, a oferta de assentos no mercado doméstico encolheu 6,36%.

SEGUNDO SEMESTRE


Já Arruda acredita que o segundo semestre será melhor do que o primeiro, com Azul e Avianca puxando o crescimento da oferta.


"Mas, sem dúvida, o ano ficará abaixo de 2%, 3%", diz ele, que no início do ano estimava alta de 5,5%.


Anteontem, a Gol anunciou um corte de mais 200 voos semanais, ampliando de 7% para 9% a redução na oferta de assentos neste ano. A empresa diz que nenhum destino será eliminado da malha, mas que haverá corte de frequências.

A TAM, que falava em cortar a oferta entre 5% e 7%, ainda não revisou o número.

"Mas, com a situação atual do câmbio, é possível que haja um ajuste no segundo semestre", diz Daniel Levy, vice-presidente de finanças, para quem ainda não é hora de falar em reajuste de tarifas.

Levy diz que a empresa já sente uma maior cautela do consumidor na hora de comprar bilhetes internacionais.

Para Castellini, as companhias não têm mais gordura de eficiência para cortar.

"A única saída é reduzir a oferta e concentrar a operação em voos mais rentáveis."

CENÁRIO DISTINTO

 Juntas, TAM e Gol tiveram prejuízo de R$ 2,7 bilhões em 2012. Mas Castellini acredita que o cenário atual é bem distinto do de 2003, ano em que o setor encolheu 5,9% devido a problemas financeiros da Varig e da TAM. Na época, o BNDES chegou a desenhar um plano de salvamento que levaria à fusão das duas empresas. "Hoje há um colchão de segurança", diz Castellini. "Não há crise de liquidez nas principais companhias. Não vejo um cenário de consolidação."


OPINIÃO


Diante da pressão popular em volta dos transportes terrestres, não vejo razão para não se manifestar em favor dos transportes aéreos. De fato, está sendo inviável operar nas condições que o País oferece. Entretanto, se a classe como um todo não aproveitar o ensejo popular para reivindicar melhorias no setor, por mais uma vez, a oportunidade vai passar e como se diz no ditado popular "não adianta chorar pelo leite derramado."

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